Como uma invenção ingênua conseguiu mudar toda uma geração.


Quando Daisuke Inoue inventou uma caixa com microfone em que se tocava musica sem o vocal, nem ele tinha ideia do tão longe que essa invenção iria chegar.

de 1971 até hoje muita coisa mudou no japão, eu nunca tinha ido pra lá e no dia que pisei no Yoyogi Park(uma especie de Central Park japonês), percebi que alguma coisa era muito diferente por lá.

Muitas bandas se apresentavam por uma das ruas, enquanto uma banda tocava as do lado esperavam a vez. Ninguêm estava pedindo dinheiro, e eles nao aceitavam as moedas que os turistas ocidentais insistiam em dar pra eles. Na frente de cada banca tinha uma mesinha com CDRs que eram oferecidos de graça pra quem gostou do som.




Virando em outra rua do parque, um grupo de Rockabillys japones ficava dançando no sol escaldante. Sem querer dinheiro eles tambem nao queriam nada alem da atenção de quem passava. E se mesmo assim ninguem parasse, eles continuariam dançando.


Ao lado deles tinha um cara que levava um radio de pilha com com uma fita do U2. Enquanto a musica ia tocando ele ia cobrindo a voz do Bonno Vox com a dele, e pelo que vi ele deve ter feito isso por umas 3 horas, sem aceitar um centavo de ninguem.

Sem contar a menina do bambolê, o grupo que dançava sem musica, o pessoal do Free-Hug.




Alguma coisa tava errada. Eu nao entendia o que era aquele parque, nao sei pq as pessoas estavam fazendo aquilo. Tive um clique quando fui num show de um grupinho moderninho californiano que fazia uma turnê pelo japão. 3 Bandas japonesas iriam abrir o show das americanas.


Cheguei e o showzinho da primeira banda tava começando. '"Number0" era o nome, era algo como se o Sigur Ros fosse japonês. Mas nenhum dos integrantes da banda tinha mais de 22 anos.
(www.myspace.com/number0number0)

Depois ia começar Miyauchi Yuri, que até entao eu nao sabia se era uma banda ou um cara ou uma menina ou sei lá o que. Vejo umas 2 guitarras, um violão, um teclado, um bumbo e um spray odorizador. Entra um cara só, ele toca umas notas no violão e usando um sampler ele transforma aquilo em um looping, pega a guitarra e faz a mesma coisa, bate no bumbo e tb, e controlando o sampler e um mixer ele fica nessa por quase 40 minutos, mudando de uma musica pra outra falando coisas engraçadas em japonês com a plateia (engraçadas pra mim pq nao sei nada de japonês, e engraçadas pra plateia que entendia e ria das piadas). O cara é bem foda. Se o Number0 já tinha me impressionado, Miyauchi Yuri quase fez a menina da bandinha californiana a ter um AVC.
(http://www.myspace.com/yurimiyauchi)

Quando pensava que ja tinha visto tudo, entrou a primeira banda de verdade (do jeito quer eu estava acostumado: guitarra, baixo, bateria e tal), Pepe California(apesar do nome, é também japonesa) entrou como se fosse a grande atração da noite, foi a que recebeu mais aplausos dos japas, e eu ali pensando que era uma banda de verdade (do jeito quer eu estava acostumado: guitarra, baixo, bateria e tal), mas o vocalista, que parecia ter saido direto do filme Reis de Dogtown direto pro palco, entrou em cena carregando um sampler e um mixer, como se fosse uma guitarra. o que vi e ouvi dali pra frente foram batidas eletronicas que hora vinham com toque disco-punk, hora vinham mais house, misturadas com o que se espera de uma banda de verdade (do jeito quer eu estava acostumado: guitarra, baixo, bateria e tal). Pepe California me deixou de boca aberta. Eles sim são uma banda de verdade mas nao como eu estava acostumado.
(www.myspace.com/pepecalifornia)
mp3!

Depois deles entraram as californianas do Rubies, e sobre elas nao vou falar nada, pq eu e você já devemos ter visto 30 delas por aí. no maximo são fofinhas.

Pois bem, depois de sair do show, consegui entender o que era o japão pós-1971. É um karaoke elevado a décima potencia. A então invenção do japonesinho Daisuke fez com que nascesse nos japoneses dessa geração a vontade de mostrar aos outros porque estavam vivendo. Seja vestido de rockabilly, seja dançando sem musica, seja fazendo uma bandinha com os amigos.

As crianças já nascem querendo fazer coisas, querendo aprender guitarra pra ir pro yoyogi park no sabado, a fazer som no computador nem que seja só para ter as paredes do quarto como plateia.

Eu tenho inveja da geração Karaoke.

Comments

Anonymous said…
Essa sim é a verdadeira geração DIY. A outra precisava de Malcom McLarens da vida, essa só precisa de um PC, uma conta no Myspace e um parafuso a menos.
Acho que posso dizer que pertenço a ela, mas ainda assim também tenho inveja.
Anonymous said…
muito legal. o post está escrito em japonês?
peèle lemos said…
A diferença da geração Do It Yourself pra Karaoke é que dar a cara pra bater é o combustivel da segunda.
Anita said…
adorei o post moleskine-de-viagem! deu vontade de dançar sem música.
Anonymous said…
Concordo em termos. Os anos 70, 80 e 90 estão cheios de excelentes bandas de garagem de gente que fez das tripas coração pra tentar fazer a coisa virar, mas que simplesmente não tinham uma cena forte o suficiente e divulgação o suficiente pra tornar isso possível. Se até querendo procurar Johnny Thunders nos p2p da vida você encontra dificuldade, muitas outras bandas menos afortunadas tem registro histórico praticamente inexistente. Hoje podemos acompanhar a cena underground californiana, como você disse, sem ao menos ter que saber de que lado da costa americana ela fica. Eu ja tive um gravador de quatro canais, e pra mim, sem dúvida o fator determinante nessa geração é a tecnologia. Não só pela questão técnica, mas pela social também.
Anonymous said…
esse japonelvis canta como quem lambe peruca.
Anonymous said…
é o Speaker's Corner dos japa
Unknown said…
Eu assisti o show do JAPONELVIS e confesso que fiquei impressionado com a sua competência. Ele é fantástico. Recomendo!

Josias Alcantara

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