Vivienne Westwood by Luigi
Nosso amigo Luigi, do Aboutfashion, entrevistou ninguém menos que Vivienne Westwood para o portal do SPFW ( que acabou de ser relançado, e está fantástico, não deixe de visitar).
O texto é ótimo, sobretudo onde ela fala do seu manifesto contra a propaganda e publicidade. Para nós que trabalhamos com comunicação, é bom refletir sobre uma crítica tão pertinente, vinda de uma pessoa tão genial. Enjoy.
"Considerada pelo jornal WWD uma das mais importantes estilistas do século XX, Vivienne Westwood, que como você já sabe está no Brasil por conta do lançamento de seus sapatos na Melissa e de uma exposição aqui na Bienal, falou com o portal SPFW na manhã dessa sexta (18/01), sobre seu manifesto, moda e, como não podia faltar, até um pouqinho sobre o punk.
Para quem ainda não está sabendo, a grande Dama da Moda, mãe do Punk, escreveu ano passado um manifesto chamado "Active Resistance Against Propaganda". Lá Vivienne discorre sobre como atualmente tudo é tão superficial e pasteurizado. "Se você pegar vários jornais políticos, todas as notícias e informações que você encontrar vão ser muito rasas". Ela é daquelas que preza pelo aprofundamento das informações, por algo que nos falta pensar. "Por isso prefiro livros. Através das palavras de uma pessoa é possível entender o pensamento humano e ter maior acesso e conhecimento da própria natureza humana".
O consumismo exagerado e a "distração ininterrupta" (considerado por ela o principal mal da propaganda) também são outros pontos fortemente criticados por ela, que ajudam a deixar todo mundo sem opinião própria.
O único antídoto para tudo isso é a cultura. E em seu manifesto Vivienne sai em busca da arte, pois é só com arte que se pode entender a cultura. E é com cultura que poderemos entender nosso mundo, a natureza humana e sair deste círculo auto-destrutivo que vivemos em nome do progresso. Isso porque "a cultura ajuda você a ter um ponto de vista diferente, faz você pensar quando se depara com algo realmente bom, faz você ter opinião própria e um ponto de vista política único."
Toda sua vida e carreira foi marcada por posturas rebeldes, anti-conformismo e luta para quebrar os padrões do "establishment". Já em finais da década de 70, foi ela, junto com seu então parceiro Malcon McLaren que deu origem ao movimento punk, fazendo todas as roupas do Sex Pistols. Para ela as proporções que a cultura punk tomou foram tão grandes que até chegou a dizer que "nunca haverá outro movimento tão forte como o punk. Ele foi essencial e muito bom para lutar e questionar o establishment".
Porém com o passar do tempo Vivienne percebeu que não há como lutar contra o establishment. "Toda forma de rebeldia agora é assimilada por ele e transformada em estratégia de marketing. Hoje o importante é ter uma visão política, um ponto de vista diferenciado e saber ser racional."
A moda para ela sempre foi uma forma de expressar sua opinião, um modo de mostrar em imagens o que pensa, o que acredita. Olhar para rua, para o que está acontecendo no mundo, sempre foi uma das características mais marcantes do trabalho de Westwood. Muitas vezes, ou melhor, quase sempre, a estilista olha para o passado, para retratar de forma moderna, questões mais do que atuais e conflitos sociais correntes.
Vivienne acredita que a moda "é um excelente meio para ilustrar o pensamento e a personalidade de uma pessoa". Para ela quanto mais forte a roupa, mais forte a expressão e personalidade da pessoa que a veste. E suas roupas traduzem bem isso. Muito mais do que mera tendência, suas roupas carregam suas idéias, seus ideais. É como vestir seu manifesto.
Como ela mesma diz suas roupas "são heróicas, dão a chance para a pessoa se expressar". São atemporais, não precisam ser trocadas a cada estação, podem (e devem) durar para sempre, já que dizem algo a respeito de quem as veste. Para ela, repetir roupa não é crime fashion, bem pelo contrário, dá status a quem usa, ajuda a marcar a personalidade.
E Vivienne acredita que isso possa acontecer com qualquer peça de roupa. "Lógico que um par de jeans já não tem a mesma força de expressão que teve anos atrás. Mas se alguém sair na rua e vestir um saco de lixo ou qualquer coisa pensada para dizer ou expressar algo, já é uma forma de cultura". E justamente por isso que Vivienne acredita que moda pode, sim, ser considerada uma forma de arte. Arte aplicada, já que precisa de alguém para vesti-la. E arte no sentido que pode fazer pensar, fazer nos sentir mais humano e expressar um ponto de vista próprio. "Sua roupa tem que falar."
Por Luigi Torre
O texto é ótimo, sobretudo onde ela fala do seu manifesto contra a propaganda e publicidade. Para nós que trabalhamos com comunicação, é bom refletir sobre uma crítica tão pertinente, vinda de uma pessoa tão genial. Enjoy.
"Considerada pelo jornal WWD uma das mais importantes estilistas do século XX, Vivienne Westwood, que como você já sabe está no Brasil por conta do lançamento de seus sapatos na Melissa e de uma exposição aqui na Bienal, falou com o portal SPFW na manhã dessa sexta (18/01), sobre seu manifesto, moda e, como não podia faltar, até um pouqinho sobre o punk.
Para quem ainda não está sabendo, a grande Dama da Moda, mãe do Punk, escreveu ano passado um manifesto chamado "Active Resistance Against Propaganda". Lá Vivienne discorre sobre como atualmente tudo é tão superficial e pasteurizado. "Se você pegar vários jornais políticos, todas as notícias e informações que você encontrar vão ser muito rasas". Ela é daquelas que preza pelo aprofundamento das informações, por algo que nos falta pensar. "Por isso prefiro livros. Através das palavras de uma pessoa é possível entender o pensamento humano e ter maior acesso e conhecimento da própria natureza humana".
O consumismo exagerado e a "distração ininterrupta" (considerado por ela o principal mal da propaganda) também são outros pontos fortemente criticados por ela, que ajudam a deixar todo mundo sem opinião própria.
O único antídoto para tudo isso é a cultura. E em seu manifesto Vivienne sai em busca da arte, pois é só com arte que se pode entender a cultura. E é com cultura que poderemos entender nosso mundo, a natureza humana e sair deste círculo auto-destrutivo que vivemos em nome do progresso. Isso porque "a cultura ajuda você a ter um ponto de vista diferente, faz você pensar quando se depara com algo realmente bom, faz você ter opinião própria e um ponto de vista política único."
Toda sua vida e carreira foi marcada por posturas rebeldes, anti-conformismo e luta para quebrar os padrões do "establishment". Já em finais da década de 70, foi ela, junto com seu então parceiro Malcon McLaren que deu origem ao movimento punk, fazendo todas as roupas do Sex Pistols. Para ela as proporções que a cultura punk tomou foram tão grandes que até chegou a dizer que "nunca haverá outro movimento tão forte como o punk. Ele foi essencial e muito bom para lutar e questionar o establishment".
Porém com o passar do tempo Vivienne percebeu que não há como lutar contra o establishment. "Toda forma de rebeldia agora é assimilada por ele e transformada em estratégia de marketing. Hoje o importante é ter uma visão política, um ponto de vista diferenciado e saber ser racional."
A moda para ela sempre foi uma forma de expressar sua opinião, um modo de mostrar em imagens o que pensa, o que acredita. Olhar para rua, para o que está acontecendo no mundo, sempre foi uma das características mais marcantes do trabalho de Westwood. Muitas vezes, ou melhor, quase sempre, a estilista olha para o passado, para retratar de forma moderna, questões mais do que atuais e conflitos sociais correntes.
Vivienne acredita que a moda "é um excelente meio para ilustrar o pensamento e a personalidade de uma pessoa". Para ela quanto mais forte a roupa, mais forte a expressão e personalidade da pessoa que a veste. E suas roupas traduzem bem isso. Muito mais do que mera tendência, suas roupas carregam suas idéias, seus ideais. É como vestir seu manifesto.
Como ela mesma diz suas roupas "são heróicas, dão a chance para a pessoa se expressar". São atemporais, não precisam ser trocadas a cada estação, podem (e devem) durar para sempre, já que dizem algo a respeito de quem as veste. Para ela, repetir roupa não é crime fashion, bem pelo contrário, dá status a quem usa, ajuda a marcar a personalidade.
E Vivienne acredita que isso possa acontecer com qualquer peça de roupa. "Lógico que um par de jeans já não tem a mesma força de expressão que teve anos atrás. Mas se alguém sair na rua e vestir um saco de lixo ou qualquer coisa pensada para dizer ou expressar algo, já é uma forma de cultura". E justamente por isso que Vivienne acredita que moda pode, sim, ser considerada uma forma de arte. Arte aplicada, já que precisa de alguém para vesti-la. E arte no sentido que pode fazer pensar, fazer nos sentir mais humano e expressar um ponto de vista próprio. "Sua roupa tem que falar."
Por Luigi Torre
Comments
Tentar comparar jornalismo com literatura para tentar inferir algum tipo de superioridade é uma atitude no mínimo ingênua, pra não dizer pior.
E é engraçado ouvir sobre pasteurização e superficialidade de alguém que enxergando a oportunidade, não pensou duas vezes ao parasitar um movimento em ascensão e deu a cartilha para a anulação dos ideais e significações em detrimento da estética.
Ok, a estética pode até ter sido o elemento que marcou o punk na história, mas foi também a estética que pasteurizou o movimento e o reduziu a grupos de revoltadinhos e aparecidos que não estavam expressando individualidade nenhuma, mas estavam basicamente se uniformizando (aliás me parece bastante incompatível o minimalismo musical e existencial ter sido atrelado à extravagância das roupas e acessórios e a preocupação com a cor e o ponto cardeal a que seu cabelo aponta).
Pode até ser que no final das contas a beleza do movimento punk seja essa miséria humana mesmo, esse niilismo que no fundo é só um pedido de socorro para uma geração de carentes, como aquela história do Richard Hell, que rasgava as proprias roupas para poder se lamentar por ser pobre e só ter roupas rasgadas. E é bem provável que no fim das contas esse era o destino inexorável para um movimento como esse, mas - isso pode soar bastante maniqueísta - eu lembro de ler Kill Me Please e enxergar ela e o McLaren como os "vilões" da história.
Podia ir dar um role na periferia, de onde se inspirava, pra reciclar.
Deixa Sid Vicious ouvir...
falar é fácil, agir que é o caso.
Ela tem razão qdo diz que hj o sistema corrompe toda forma de rebeldia, vê-se pelos documentários românticos de antigos rebeldes, penks etc.
Ela, assim como quem concorda ou critica, precisa de mais ação e menos conversa.
É claro, que nesse caso o discurso contra a propaganda acaba sendo propaganda do próprio manifesto, mas acredito que isso não diminui sua importância e legitimidade.
E seja como for, convenhamos, a velha é muito punk.
Sobre lucrar em cima de movimentos eu não sou contra, mas também não sou nenhum entusiasta apaixonado, sobretudo quando o foco do movimento é mais calcado em filosofia do que em comportamento. O fato é que excluindo-se as religiões (e aparentemente o comunismo), os movimentos tem prazo de duração; o que a comercialização faz é apenas acelerar esse processo.
O que eu acredito ter acontecido no caso específico do punk é que a dupla Westwood/McLaren não acelerou o processo, mas desviou totalmente a trajetória do movimento e isso sim eu acredito ser, de alguma forma, algo prejudicial. Que o resultado seja satisfatório ou não, não é o que tento analisar, apenas tento ser pragmático.
Mas não ignoro também o acaso como um possível gerador de boas surpresas.
E tem que ver o que o povo de ballroom tem a dizer sobra a crise dos mísseis em Cuba.