Tempos de mudança

Texto ótimo do Luigi, lá no About Fashion.

Ao fim da penúltima temporada de moda – do inverno 2007/2008) o que mais se falou foi na volta do street-style. Volta ou supremacia do estilo de ruas. Tudo encabeçado por uma das melhores (senão melhor) coleções da temporada, a da Balenciaga por Nicholas Ghesquière.

Praticamente todo editor, crítico e jornalista – e lógico, fashionistas do mundo todo – aclamaram o desfile por mixar diversas influências étnicas com o melhor do estilo de rua. É o street-style influenciando as passarelas. É o que cada um de nós usa, nosso estilo pessoal sendo transportado e re-editado para padrões de luxo e para uma das principais passarelas do planeta fashion.

Ghesquière não foi o único a olhar, muito menos o primeiro, para as ruas, para o que acontece no mundo e daí desenvolver uma coleção. Galliano, Gaultier, McQueen e até Yves Saint Laurent no começo de sua carreira (lógico que em proporções e medidas diferentes) já transportaram o que se passava nas ruas para as passarelas e clientes do mercado de luxo.

Era uma grande aposta de quase todos fashionistas, que o street-style veio para ficar. Que assim como Ghesquière muitos outros apostariam em tais referências, principalmente para o verão 2008.

Mas o que aconteceu foi bem o contrário. O street-style foi literalmente posto de lado nesta última temporada de moda. Parece que a vontade de olhar para as ruas, para os movimentos urbanos e micro-grupos, desapareceu.

O que vimos nas passarelas para o verão 2008 foi uma retomada do romantismo. Uma maior feminilidade, mais adornos e detalhes, como drapeados e plissados. As próprias estampas – vide as flores da semana de Paris – remetiam à uma imagem de mulher mais feminina, quase que totalmente oposta à mulher guerreira-urbana.

O assunto foi tema de discussão no último Tendências Contemporâneas, suscitando possíveis explicações para o que aconteceu. Teve quem achasse tudo um movimento bem retrógrada, voltando à valores que talvez não se apliquem mais às realidades de hoje. Talvez seja um desejo de volta para tais valores. Afinal, a moda quando espelha uma sociedade, não reflete apenas sua imagem, mas também seus anseios.

Talvez essa mulher guerreira-urbana não exista. Talvez ela esteja em fase de crescimento. Talvez ela já tenha conquistado o espaço que desejava e agora quer voltar a se sentir mais frágil, romântica. Talvez ela não queira ser forte, ser uma guerreira urbana.

Se analisarmos a história da moda vemos que a imagem da mulher sempre variou entre características mais restritivas (forte, agressiva, imponente) e receptivas (romântica, feminina). O que acontece é que antigamente essas variações aconteciam de década para década. Hoje, como as mudanças não só na moda, como em tudo que nos rodeia acontece mais depressa, pode ser que essa oscilação também tenha assumido ritmo mais acelerado.

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