100 Club

A música pop de qualidade do pós-guerra é uma invenção inglesa. Senão, vejamos. Elvis era até divertido, Chuck Berry criou aquela introdução de Johnny B Good que revolucionou o rock'n'roll e Little Richard (preto, pobre e gay) era avançadinho demais para os EUA dos anos 50. Mas nenhum deles emplacaria mundialmente, apenas Elvis. (Não vamos esquecer que Chuck Berry só foi receber o reconhecimento devido depois que os Stones regravaram Oh Carol, em 64). Ou seja, a música pop se resumiria a um cantor gordo, reacionário (o cara virou xerife do Nixon!!) e entupido de boletas se apresentando em Las Vegas para uma platéia de meia-idade, sem gosto e cheirando a Elizabeth Arden.
Para nossa sorte, alguns garotos pobres do interior da Inglaterra iniciaram um movimento conhecido como Merseybeat. Seus integrantes eram artistas como Gerry and the Pacemakers, Billy Fury, Rory Storm and the Hurricanes (cujo baterista se chamava Richard Starkey, mais tarde apelidado de Ringo) e, lógico, The Quarryman, posteriormente rebatizada de The Silver Beatles em homenagem aos Crickets de Buddy Holly. A fórmula do Merseybeat era a seguinte: acordes de Chuck Berry, a malícia de Elvis e seu rebolado proibido na TV americana, as melodias de Buddy Holly e os puteiros de Hamburgo, cidade que acolheu todas as bandas de Liverpool. Sem as profissionais liberais de Hamburgo, não haveria o pop/rock inglês.
Enquanto isso, em Londres, um pequeno club de jazz minúsculo chamado 100 Club recebia o que o gênero tinha de melhor num palquinho de 6mX3m e 20 cm de altura. Fundado em 1942 e situado no número 100 da Oxford Street, o 100 Club fica no basement. Totally british. A partir de meados da década de 60, seu palquinho furreca recebeu todos os nomes que importam na música inglesa. Inclusive, virou uma espécie de amuleto de toda banda iniciante e sedenta de fama e fortuna. Dizem que tocar lá faz bem para a carreira.
Sendo assim, lá se apresentaram nos seus heydays The Rolling Stones (inúmeras vezes até a década de 90), The Kinks, The Who, The Pretty Things (que eu assisti no 100 Club já no crepúsculo de sua carreira, numa noite fria da década de 90, celebrando 30 anos do seu primeiro gig neste venue), Rod Stewart, Eric Clapton, John Mayall's Bluesbraker, The Animals, Alexis Korner, Oasis (essa eu também assisti no 100 Club e no auge, logo após o lançamento de What's the Story Morning Glory... sorry, acabou de escapar uma pequena lágrima de emoção do meu olho esquerdo), Suede (banda que iniciou o Britpop), Blur, Kula Shaker, Catatonia, Heavy Stereo e outras menos famosas.
E como prova definitiva de que os ingleses são um povo sem igual (afinal, eles misturam leite no chá, não dão a mínima bola se os dentes caírem da boca e transam de meias), foi nesse clube de jazz que aconteceu o primeiro Punk Festival. Sim, o 100 Club foi fundamental para o surgimento desse movimento que, aqui na selva, foi tristemente acabar na boca do ministro Gil e sua indefectível Punk da Periferia. Baixo astral. Bem, foi lá que, em 1976, tocaram juntos pela primeira vez Sex Pistols, The Clash, Siouxsie & the Banshes e The Buzzcocks. No dia seguinte, a Melody Maker dizia que "A new decade in rock is about to begin". Oi!
Ou seja, o lugar é uma meca localizada em Albion, onde tribos tão distintas quando jazzistas, punks, indies e velhos blueseiros se encontram, bebem seus pints de lager e celebram a existência desse lugar que só se compara na memória afetiva do povo inglês ao Cavern Club (que, aliás, foi demolido e reconstruído alguns quarteirões adiante), em Liverpool.
Curiosamente, os Beatles nunca tocaram no 100 Club.
Aposto que foi the fucking soppy Paul que não quis.
Mas Maca no Maraca ele topa, né?

Comments
Eles basicamente fazem o que os orientais fazem com tecnologia: copiam e melhoram.
Fizeram a britsh invasion com os rudimentos do Rockabilly, o Punk com a bagunça das bandas de Detroit e NY do final dos anos 60, e ainda, só de birra mandaram o pós-punk, o britpop e o Radiohead de brinde que é pro mundo ficar esperto e saber quem é que manda.
Funcionou com o Japão, funcionou com a Inglaterra, talvez a resposta para o post do Trainspotting seja essa; tomar bomba na cabeça faz maravilhas por um país.
No caso específico ainda, foi justamente a oposição do status quo ao rock que fez dele o que ele é. Os próprios Beatles, como o Alexandre citou, tiveram que ir pra Hamburgo para fazer a coisa acontecer. Em Beatles Anthology Lennon diz: "Cresci em Hamburgo, não em Liverpool".
Não sei, mas tem algo na forma como esse pessoal nasceu e foi criado, na forma como eles enxergavam o mundo e as oportunidades.
Não acho exagero dizer que a forma crua e urgente do rock inglês dos anos 60 tem uma relação direta com as noites de chumbo sobre Londres nos anos 40.
Punk da Periferia não é uma música punk, graças a deus. E gilberto gil tá perdoado, porque é mto mais interessante q esses ingleses citados - aliás, tem inglês mto mais interessantes q esses roqueirinho aí... sem falar nesse culto do radiohead, que é uma bandinha de merda, chata pra caralho.