Advertising Rock Star
Sou viciado em biografias. E, dentre as muitas que já li, estão dezenas sobre músicos do rock inglês.
Na década de 60, existiam duas possibilidades para o garoto inglês que concluiu o equivalente ao primário e não era muito amigo dos livros: estudar (e, para a maioria, essa não era uma possibilidade a ser considerada) ou convencer seus pais a matriculá-lo numa escola de arte.
Estudaram em escolas de arte os distintos: Keith Richards, David Bowie, John Lennon, Charlie Watts, Eric Clapton, Jeff Beck e o quinto beatle, Stuart Sutcliff.
Pois bem, a maioria queria mesmo era vagabundear, fazer uns desenhos mutcho locos, arrumar um free booze e ficar doidão em casa tocando guitarra. Mas, como a maioria das suas famílias era working class, sempre havia o chamamento dos pais para que os bastards arrumassem um emprego.
Como o mercado de arte sempre foi deveras complicado para o sujeito sem dinheiro e sem contatos (e estudos aprofudados que realizei apontam que não há perspectiva de mudança), só restava uma possibilidade para esses garotos: agência de propaganda.
Keith Richards foi mostrar a pasta na JWT e, ao ser deixado duas horas mofando na recepção, abandonou a pasta lá mesmo e decidiu, naquele momento, que queria apostar na sua iniciante banda.
Charlie Watts foi ilustrador contratado na mesma JWT. Só pediu demissão quando sua bandinha começou a fazer muitos shows pelo interior da Inglaterra. E, até hoje, é o responsável, junto com Richards, pela aprovação de todo o material gráfico dos Stones: capa de disco, cenário de show, merchandising etc.
John Lennon adorava propaganda, conforme citou em várias entrevistas (inclusive na última e famosa Playboy Interview). Inclusive, ele dizia que compunha músicas com a cabeça de quem faz um jingle. E citou Instant Karma como um ótimo exemplo de jingle, sendo Instant Karma o produto que ele queria anunciar para o mundo. Lennon só não arriscou na propaganda porque seu amigo Stuart Sutcliff era um artista genuíno e convenceu-o a focar na arte.
Eric Clapton foi levado por um amigo a uma agência, mas desistiu de entrar no prédio ao antever uma vida monótona, sentado atrás de uma escrivaninha ilustrando reclames enfadonhos.
Mick Jagger, que tem o maior jeitinho de chato inescrupuloso e um mau gosto histórico pra se vestir (não no palco, onde escolhem pra ele, mas no dia-a-dia), estudou na famosa London School of Economics. O que, talvez, ajude a explicar porque os Stones nunca se separaram e estão fazendo turnês até hoje. (O gap na década de 80 não chegou a ser uma dissolução da banda.)
Mesmo sendo esnobada pelos maiores talentos artísticos do país, a propaganda inglesa é a melhor do mundo.
Mas eu imagino que não eram apenas candidatos a criativos que acabaram optando pela música.
O Phil Collins, por exemplo, tem a maior cara de quem um dia foi atendimento. (Sorry, Rafa)
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Faz sentido.